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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Produção do conhecimento e Serviço Social

Curso de Serviço Social
Professora Dra. Maria Liduína de Oliveira e Silva

Aula: Produção do conhecimento e Serviço Social

Formas de conhecimento:
conhecimento empírico(senso comum e ideologia)
conhecimento religioso
conhecimento filosófico
conhecimento científico

Método científico e metodologia científica:
Definições (sistemático, com rigor científico, regras e procedimentos metodológicos)
ABNT

Conhecimento Empírico
Uma das primeiras formas de conhecimento
Surge há milhares de anos nos grupos humanos
Uma forma rudimentar de explicação de determinado fenômeno, vivenciado por um grupo de pessoas e perpetuado pela tradição e linguagem oral
É resultado da experiência individual e/ou coletiva casual e não intencional, depende diretamente da cultura (universo simbólico), do momento histórico(da contingência sócio-histórica), do meio ambiente físico(do habitat)
Não pode ser uma “lei” científica porque é fruto de uma experiência casual, muitas vezes apenas individual, não há intencionalidade de explicar racionalmente o por quê e não se propõe a provar a validade do conhecimento, descrevendo seu método, para outras ocasiões em que possa ser repetido.
Por outro lado, é o conhecimento que orienta agricultores e o homem comum, de forma genérica. É o conhecimento que dá origem à série de provérbios e ditados populares. É o conhecimento “popular”.
A ciência parte, muitas vezes, desse conhecimento para as pesquisas que resultarão em “lei” e “princípios” científicos.

Característica - o conhecimento empírico é:
Ametódico: não é produzido intencionalmente, depende do acaso;
Assistemático: não representa, necessariamente, uma regra, um princípio de algo que ocorre e que é válido de modo genérico e pode ser reproduzido através de um determinado método;
Dependente: sempre influenciado pela cultura, pela contingência sócio-histórica e pelo meio ambiente( físico, geográfico, pela condições climáticas)

Conhecimento empírico: diferenças entre senso comum e ideologia:
Senso comum é o conhecimento acrítico, imediatista, crédulo. Pode-se colocar no senso comum modos ultrapassados de conhecer fenômenos ou também crendices sem base dita científica. O agricultor pode ter seu método de previsão de chuva, ligado a insinuações que considera indicativas, como certo comportamento de um pássaro; o agrônomo orienta-se por indicadores bem diferentes. O senso comum é assim marcado pela falta de profundidade, de rigor lógico, de espírito crítico. O ponto positivo do senso comum é o bom senso, entendido como saber ao mesmo tempo simples e inteligente, sensível ao óbvio, circunspecto. Entretanto, diante da ciência é considerado como postura deficiente e, no extremo, a própria negação dela.

“O critério da ideologia é seu caráter justificador de posições sociais vantajosas. Enquanto o senso comum está despreparado diante de uma realidade mais complexa do que imagina sua visão ingênua, a ideologia é intrinsecamente tendenciosa, no sentido de não encarar a realidade assim como ela é, mas como gostaria que fosse, dentro de interesses determinados. Para deturpar a realidade de acordo com seus interesses, a ideologia usa de instrumentos científicos, no que pode adquirir extrema sofisticação.
Ideologia é compreendida como sombra inevitável do fenômeno do poder, que dela lança mão para se justificar. Poder sagaz que não diz que é poder, que deseja dominar, que busca vassalos, que detesta contestação.

“É sempre mais fácil dizer o que não seria ciência. Simplificadamente, não são ciência a ideologia e o senso comum. Mas não há limites rígidos entre tais conceitos, pelo que aparecem sempre mais ou menos misturados. A ciência está cercada de ideologia e senso comum, não apenas como circunstâncias externas, mas como algo que está dentro do próprio processo científico, que é incapaz de produzir conhecimento puro, historicamente não contextuado.”
Conhecimento Religioso:
Surge paralelamente ao conhecimento empírico;
Forma de explicar fenômenos para os quais a experiência individual não era (e continua a não ser) suficiente para a compreensão da realidade;
Forma de explicar fenômenos supranaturais e/ou de suportar o incogniscível, o incomensurável. (p.ex.: porque um raio destruiu a minha tribo e não a tribo vizinha? Foi castigo de Deus!)
Utiliza um conceito-chave (dogma=Deus) aceito como verdade inquestionável;
Depende da crença/fé e nunca da dúvida sistemática, da comprovação.

Conhecimento Filosófico:
Sistema de conhecimento conceitual, racional, com o delineamento de algumas premissas que se preocupam com o que somos de onde viemos, porque estamos aqui e para onde vamos
Parte em busca da Verdade e das verdades, da Virtude e das virtudes e assim por diante....
É a incubadora da Ciência atual (dá origem às ciências) na medida em que desenha o sistema das premissas para a construção do método científico.(a lógica)

Conhecimento Científico:
Metódico: é produzido intencionalmente, não depende do acaso;
Sistemático: representa, necessariamente, uma regra, um princípio de algo que ocorre e que é válido de modo genérico e pode ser reproduzido através de um determinado método;
Produz conhecimento - pesquisa, sistematiza, formula resultados para repensar a intervenção profissional, para formulação de políticas públicas....

PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL: paradigmas teórico-metodológicos
Serviço social no campo das ciências sociais
Falar de pesquisa e prática profissional nos remete aos paradigmas de análises. Importância de trazer essa discussão do campo filosófico, metodológico e epistemológico. As análises hoje passam mais pelo eixo temático do que teórico.
Historicamente, sempre coexistiram paradigmas teórico-metodógicos de análises, a apesar de que em determinados momentos se tem um paradigma hegemônico. Vejamos:

A Gênese do serviço social foi profundamente marcada pelo paradigma dominante da doutrina social da igreja. Essa ligação marcou negativamente a relação do serviço social com as ciências sociais, como uma profissão meramente assistencialista, prática e que não exigia conhecimentos científicos para a execução de sua prática. Nessa época o meio acadêmico era dominado por pensamentos que buscavam a neutralidade científica, a “verdade desideologizada” que recomendava Durkeim, a partir dos fatos como coisas.
No seu processo de institucionalização e profissionalização, o serviço social teve a influência do Funcionalismo norte americano (Mary Richmond).

Nas décadas de 50/60/Brasil:
Construções teóricas importantes como a teoria da marginalidade urbana; teoria do capitalismo dependente; exército industrial de reservas e outros. Desenvolve-se a utopia de um projeto de industrialização nacional. Os cientistas sociais passam a se comprometerem com a transformação social;
O serviço social se apresenta como um momento de críticas as metodologias neutras e importadas dos EUA (movimento de reconceituação). Emerge o desenvolvimento de comunidade.

Década de 70:
Construções teóricas que buscam analisar a estrutura do sistema capitalista; formas pré-capitalistas e capitalistas que coexistem no capitalismo; pobreza vista como fabricação social, não vista mais como algo natural. Solidificação do paradigma marxista. A ciência tem um papel de destaque, como porta vozes dos oprimidos. A participação dos pesquisadores vincula-se as classes trabalhadoras;
O serviço social tem grande influência do marxismo. Inegável a produção de conhecimentos a favor dos trabalhadores. Esta produção tem impulso considerável com a implantação dos programas de pós-graduação. Os programas constituíram como um espaço privilegiado para fomento a pesquisa. Os objetos de pesquisa centram-se na questão estrutural do sistema capitalista. Os trabalhadores passam a ser visto como sujeitos e não mais como marginais.
Década de 80:
Abertura política no Brasil/processo de democratização;
Começa a ruir a crise do trabalho assalariado e do estado de bem estar na Europa. Relação capital/trabalho se alteram. Discussão de uma “nova” desigualdade social. “os novos pobres”.
Os estudos e pesquisas começam a “abandonar” um pouco a ótica totalizante e começam a entrar mais nas esferas: cotidianeidade, cultura, subjetividade e outras. Emerge as temáticas dos movimentos sociais. Proliferaram-se os movimentos sociais de defesa de direitos (criança, índio, negro, mulher...)
Fins dos anos 80:
Modificações no mundo e no Brasil;
Crise do socialismo leste europeu (murro de Berlim/Rússia);
Aprovação da Constituição Federal de 1988;
Emerge a crise dos paradigmas de análises. Parte-se do pressuposto de que os paradigmas funcionalismo e marxismo eram insuficientes para explicar uma “nova” sociedade complexa (pós-industrial) com dinâmicas específicas e contraditórias;
Era preciso paradigmas em consonância com o mundo “pós-moderno”, da informatização, do virtual. Era preciso incorporar dimensões contemporâneas.
Década de 90:
Refluxo dos movimentos sociais e surgimento das ONG´s;
Crise da ética na política (Presidente Collor; Senadores Arruda e ACM; Jader Barbalho e outros)
Fenômeno da globalização;
Com mais evidência chega no Brasil a crise do trabalho assalariado. Relação capital/trabalho mais complexa;
Acentua-se a chamada crise dos paradigmas nas ciências sociais, sobretudo do marxismo. As críticas é que o marxismo havia deixado dimensões importantes como os sujeitos sociais, culturas, individualização/subjetividade e outros.
Como alternativa surge a discussão dos Pós-modernos como uma elegia a perspectiva dos fragmentos, do provisório, da cultura, das representações sociais, da subjetividade.

A importância da pesquisa na prática profissional
O serviço social é uma atividade prática por excelência, ao mesmo tempo de investigação, de indagação e de interferência/intervenção no social.

É fundamental a pesquisa na intervenção profissional, tendo como alicerce um determinado paradigma teórico-metodológico de intervenção.

A pesquisa no serviço social aponta para um novo momento, que é o da maioridade profissional. Colocando-o como interlocutor efetivo no campo das ciências sociais e como produtor efetivo de conhecimentos.

ABPESS (ABESS), as coordenações de cursos e os novos currículos tiveram (e tem) um papel decisivo na superação das estruturas tradicionais da formação acadêmico-profissional, em que a pesquisa era vista como dicotômica do ensino. Ainda hoje em muitas unidades de ensino ainda persiste.

A pesquisa alargou o horizonte da prática profissional, operou uma crítica a perspectiva tradicional de intervenção, procedeu uma crítica a concepção positivista de objetividade e as formas de conhecer a realidade. Potencializa a prática profissional fazendo dela um momento de prática social, vinculando o profissional a um projeto mais amplo de mudanças sociais.

A pesquisa capta o movimento da realidade colocado para a prática profissional. É interessante pensarmos que a realidade tem uma dinâmica de reprodução e de transformação. É na dinâmica de transformação que se pode alterar a realidade.

É o paradigma teórico-metodológico importante. O que parece óbvio, as vezes, não é e o que não aparece óbvio lança possibilidades de análises sob vários ângulos.

HENRI LEFEBRE “é importante na investigação manter duas coisas: não interessa a vida sem conteúdo e nem o conteúdo sem vida”.

Alguns desafios para o serviço social (Ana Maria Quiroga Neto):
Desenvolver projeto pedagógico de formação profissional em que a pesquisa ocupe a mesma importância que o ensino/ sala de aula;

Apreender a pesquisa como uma dimensão necessária à formação e ao exercício profissional do Assistente Social, no sentido de interpretar e intervir criticamente na realidade;

No contexto da formação profissional: desenvolver atitude crítica, reinstalar o confronto teórico, estabelecer mecanismos de mediação, de visão de totalidade, particularidade dos processos sociais e ampliar as possibilidades de análises das problemáticas (objeto de intervenção);

Desenvolver estratégias pedagógicas de modo a fazer o confronto teórico-metodológico no interior das disciplinas (iInterdisciplinaridade);

Desenvolver hábitos metodológicos de análise, crítica e síntese necessários à produção do conhecimento;

Incentivar a participação de docentes e alunos na elaboração conjunta de pesquisas concretas;
Implementar bancos de dados e análise dos mesmos;

Revalorizar o papel da teoria na pesquisa, criticando evidências pragmáticas e/ou tecnicismo;

Criar espaços de pesquisa na docência/discência.

A pesquisa é importante na formação profissional e ao profissional que se insere na realidade. Pesquisa é resultado da articulação entre teoria-método-instrumental técnico da realidade. Estes elementos por sua vez, integram a formação acadêmica.

Tem-se de formar profissionais pesquisadores, com espírito crítico reflexivo. Pesquisa não é “coisa” só de especialista, mestre ou doutor. Está na base da profissão.

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