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quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Questão do Método nas Ciências Humanas, Sociais e no Serviço Social

Profª.drª. Maria Liduína de Oliveira e Silva



Caminhos não há.
Mas as gramas
os inventarão.
Aqui se inicia,
uma viagem clara
para a encantação.
Fonte, flor em fogo,
o que nos espera
por detrás da noite?
Nada vos sovino:
com minha
incerteza,
vos ilumino.


Qual sentido tem a noção de método? muitas acepções:

caminho pelo qual se atinge um objetivo;
estrada, simultaneamente, rumo, discernimento da direção;
panorama que regula várias operações, técnicas;
via de acesso, onde se constrói o conhecimento científico;
como fazer (modo de fazer);
melhor maneira para compreender o objeto, objetivos;
um abordagem teórico-metodológica escolhida pelo pesquisador (conceitual e operacional)
escolha de instrumentos, técnicas de coletas e análise;
é um jogo de quebra cabeça (criação/encantamento/revelação)


Dicionário Lalande MÉTODO é:


É um esforço para atingir um fim, investigação, estudo, caminho pelo qual se chega a um determinado resultado;


Método para Marilena Chauí:

“Méthodo significa uma investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado”;

“o bom método é aquele que permite conhecer verdadeiramente o maior número de coisas com menor número de regras”... “As ciências humanas tendem a apresentar resultados mais complexos e satisfatórios quando trabalham interdisciplinarmente, de modo a abranger os múltiplos aspectos simultâneos e sucessivos dos fenômenos estudados”.
Ganha a idéia de totalidade.



A compreensão do método nem sempre tem merecido a atenção que merece dos pesquisadores.



O sentido do método ganha maior consistência, maturidade teórica no contexto das ciências humanas e sociais (Serviço Social), enquanto método de investigação científico


Método é uma prática muito além das técnicas/instrumentos.


Método envolve técnicas, mas entendê-lo como somente um conjunto de técnicas induz a uma enorme redução. Porque, método é “fundamentos e processos nos quais se apóia a reflexão” (Paulo de Salles Oliveira).
EX: Método Paulo Freire não é constituído somente de técnicas de alfabetização e sim da concepção de homem, mundo, de educação.
Método não é meramente um procedimento instrumental tecnicista, que tenha existência de suas concepções de sociedade, de homem, mundo e das relações de sociais entre sujeito e objeto.
Método reafirma os fundamentos e a reflexão capaz de compreender a questão social (objeto de investigação) e os procedimentos pelos quais se constroem a pesquisa nas c. Humanas, nas c. sociais e no serviço social.



Pesquisa é uma prática de investigação e só se aprende, fazendo pesquisa e nada pode substituir essa prática. Pesquisa é ir para prática...



“O melhor aprendizado da pesquisa social é fazê-la, mas, preferencialmente, fazê-la sabendo o que se faz”. (Gabriel Cohn).

CONSTITUIÇÃO E POLITIZAÇÃO DO MÉTODO

Surge entre os séculos XIV, XVII e XVII, em oposição ao saber eclesiástico, valorizando o pensamento racional. Teocentrismo x antropocentrismo
Dessacralização e laicização do conhecimento
Influência do método das ciências exatas e naturais nas ciências humanas e sociais (serviço social).
Homogeneidade epistemológica: conhecer e interpretar a realidade social (sociedade) com fundamentos nos fenômenos naturais.
Explicação dos fenômenos sociais (Q. Social) como naturais e não historicamente construídos.

Construção do método/meios/técnicas confiáveis para observar e promover experimentos que fundamentassem (rigor cientifico) o conhecimento da sociedade.
A busca pela ciência da sociedade, que explicassem os “fatos sociais”: a sociologia.


Positivismo: ruptura com o conhecimento dominante clerical


Positivismo surge como um conhecimento revolucionário que ao longo de seu desenvolvimento vai se transformando num conhecimento conversador, a serviço da burguesia.
Positivismo passa a justificar a ordem e o progresso, as relações sociais de dominação da sociedade.
O conhecimento se consagra como fonte de poder: união entre poder e conhecimento


Ciência, conhecimento e política estão diretamente relacionados.


Nesse sentido, há uma politização do método de conhecimento/investigação, que pode estar a serviço de um determinada classe social

A ciência/método subsidia a expansão da sociedade capitalista, que compreendia a técnica como uma ferramenta de manipulação e dominação.


Planejamento/técnicas: instrumentalização e adestramento de mentes;
Há uma nova forma de construção de conhecimento, que cresceu concomitantemente com a ascensão da burguesia e com a instituição das bases jurídicas;
Política e ciência caminham juntas e consolidam instrumentos capazes de promover o disciplinamento dos homens, mulheres, crianças, jovens, idosos à lógica da produtividade, da racionalidade e acumulação.


O método materialista dialético passa a questionar: que projeto de homem desejamos: que projeto de sociedade queremos? Que sociedade é está????? Vários questionamentos

Que conhecimento tem-se por detrás desse método?
Daí, passa-se a compreender o imbricamento da relação sujeito e objeto no processo de conhecimento, como parte integrante de um mesmo processo.
O Sujeito ganha centralidade. Não é mais o sujeito oculto, o contato indireto.
Há um novo método de conhecimento que parte da história, das condições materiais de existência, dos determinantes sócio-histórico. Parte-se da concreticidade da vida humana? Práxis. Não parte mais da homogeneidade epistemológica.

Dialética materialista:


revolucionou o modo de pensar o homem, a sociedade e a educação. Numa visão de totalidade, refletiu as contradições da sociedade, pensando-as contraditoriamente, em movimento e em permanente transformação.

O método materialista dialético


opõe-se, em geral, ao processo experimental que defende padrão único de pesquisa para todos as ciências, calcado no método das ciências da natureza. Recusa-se a admitir que as ciências humanas e sociais devam ser conduzidas pelo paradigma das ciências da natureza. Recusa-se a legitimar os conhecimentos sociais por processos quantificáveis de técnicas de mensuração em leis e explicações gerais;


afirma, em oposição ao povitivismo, a particularidade das ciências humanas/sociais - estudo do comportamento humano e social. Por isso tem metodologia própria. Considera que a adoção de modelos experimentais conduz a generalização errôneos em ciências humanas;


Método: sujeito e objeto

Tanto a realidade quanto as relações humanas são qualitativas. Há uma relação dinâmica entre mundo real e o sujeito. Existe uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vinculo indissociável entre mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento é mediatizado pelas mediações do SUJEITO inserido na realidade, que produz significados;


Sujeito é parte integrante do processo de conhecimento, interpreta a realidade atribuindo significados;

Objeto não é um dado inerte e neutro, possui significados e estabelece relações entre sujeitos concretos que criam suas ações.

Cria-se uma dinâmica entre pesquisador e pesquisado


O SENTIDO DO MÉTODO MATERIALISMO DIALÉTICO: racionalidade cientifica, intencionalidade e práxis humano-social.


Razão + intenção + projeção.

Os gregos refletiam sobre questões que os desafiavam, na busca de alternativas para solucioná-las. Organizavam (planejavam) ações com sentido lógico de resolução dos problemas.

“uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas, o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-lo em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante de seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade”.

(Marx. Crítica da Economia Política).


O método como racionalidade e intencionalidade na ATIVIDADE (PRÁXIS) DOS PESQUISADORES, pode contribuir para a resolução das questões de pesquisa (Questões sociais). Pelo seu método de investigação, o pesquisador tem possibilidade de interpretar e transformar a realidade.



Fatores externos: exclusão social e escolar, anti-democracia, não participação da comunidade na escola, falta de articulação da escola com as ONG’s e etc.

Fatores internos: conteúdos repetitivos, faltas, violência escolar e doméstica, ausência de livros e equipamentos escolares e etc.


um méthodo de trabalho do pesquisador. É uma práxis (pessoal e coletivo), que o ajude na tarefa essencial de conhecer e intervir na realidade, numa perspectiva de manutenção e/ou transformação do status quo.








Méthodo usa th para mostra bem a raiz dialética, de movimento contraditório, de afirmação e negação, de caminho e fim. É um méthodo dialético de planejar a investigação, a práxis pedagógica, que compreende a realidade em movimento, em contradição, na unidade teoria e prática, na totalidade.


O méthodos da práxis investigativa é um instrumental teórico-metodológico da ação do pesquisador. Com um instrumento necessário, o pesquisador social elabora sua práxis, no sentido de buscar a transformação da realidade social. O méthodo tem dimensão dialética filosófica, de partir da prática, refletir sobre ela para transformá-la.


O méthodo é uma práxis do assistente social, do educador, do sociólogo porque dá uma orientação teórico-metodológica na intervenção profissional, para atingir os fins que deseja. Constitui-se num eixo metodológico de organização do trabalho, de definição de objetivos, procedimentos, de tomada de decisões, de reflexões sobre práxis investigativa, contribuindo fundamentalmente para a construção da cidadania.



Método:
Reflete a visão de homem e mundo;
Orienta a condução teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa;
Possibilita gestão democrática como um canal de participação efetiva de todos;
É estruturante do projeto ético-político do Serviço Social;
Mobiliza e aglutina os movimentos sociais;
Potencionaliza avaliações;
Fomenta a formação continuada e em serviço;

Por fim, precisamos ter clareza que o método é um caminho teórico-metodológico para prática da investigação. Poderoso, mas, um instrumento. Para ser viabilizado depende da clareza teórica, da unidade teoria e prática, da direção que se deseja. É relativamente complexo, flexível. Não é uma improvisação nem instrumento salvacionista. É necessário a práxis de investigação e é sempre uma aproximação, uma tentativa de revelar o real em sua concreticidade e uma contribuição para a cidadania.


Não existe um único método nas ciências humanas, sociais e no serviço social.


Há vários caminhos/ métodos que implicam em fundamentos teórico-metodológicos que são incorporados pelos pesquisadores para interpretar e protagonizar, para compreender e transformar a sociedade.


O debate do método no Serviço Social tem o rebatimentos das Ciências Sociais


Pesquisa em Serviço Social é concebida como mediação constitutiva da identidade e do exercício profissional inerente ao projeto ético-político da profissão

Estudantes e profissionais pesquisadores: pesquisa como eixo da formação e do exercício profissional.


A importância do método é estruturante da pesquisa em serviço social.

É fundamental ter clareza do método de investigação na formação profissional, no exercício/trabalho profissional, no instrumental técnico-operativo para realizar a leitura e intervenção no social, para explicitar e desvendar a questão social como objeto da intervenção do assistente social.
“Não basta interpretar o mundo é preciso transformá-lo” (Karl Marx).

“Não somos pescadores domingueiros, esperando o peixe.
Somos agricultores, esperando a colheita,
porque a queremos muito,
porque conhecemos as sementes, a terra,
os ventos e a chuva, porque avaliamos as circunstâncias
e porque trabalhamos seriamente”.

Danilo Gandin

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